No entanto, o consumo existe desde os primórdios da humanidade. Porém, na atual conjuntura de sociedade em que vivemos, temos a presença de uma roda viva praticamente incontrolável: o homem trabalha para consumir; Trabalhando mais, produzirá mais; Produzindo mais, haverá mais oferta; Então, este é incitado a consumir, através da publicidade. E para consumir, deve trabalhar... Transforma-se, então, o homem num alienado dentro da esfera de trabalho e consumo.
Vemos então, uma das desgraças da sociedade de consumo: o homem acaba por se anular em vista do simples consumo. E acaba por satisfazer doentiamente suas necessidades no consumo, no objeto consumido; Sente segurança em ter o que consumir enquanto vivo. O aparente desenvolvimento / crescimento é na verdade inexistente, nulo. O fato é que se tem uma perda enorme na qualidade de vida da maior parte da população mundial em detrimento do benefício de poucos. Passe-se a julgar e valorizar o homem pelo ter, ou invés do ser.
Ainda neste ínterim, podemos notar que os paises que apresentam uma sociedade de poder aquisitivo suficiente para atingir as suas realizações de consumo são responsáveis pela maior degradação e consumo de bens e produtos. No entanto, as sociedades pertencentes a paises do que se conhecia por Terceiro Mundo, menos favorecidas, querem a custo do trabalho excessivo, alcançar um patamar semelhante de consumo.
Outra característica muito evidente da Sociedade de Consumo é o uso do financiamento. O consumidor adquire o objeto desejado agora, em troca de seu futuro trabalho, de algo que ainda nem possui e que é incerto. Também é característico o controle de mercado, onde se é criada uma demanda de consumo; Temos, então, a inversão do ciclo de venda: onde o consumo controlava a produção, agora temos a produção que controla o consumo.
Deve-se também salientar que, a partir da Revolução Industrial e da cada vez maior especialização e divisão do trabalho, a relação do trabalhador com a obra realizada tornou-se cada vez mais degradada, para não dizer que hoje já inexiste em muitas áreas da produção. A paixão pela própria obra foi substituída pela paixão de consumo de bens também produzidos coletivamente por outros indivíduos.
A publicidade, uma outra importante característica da Sociedade de Consumo, é um método mais do que eficaz de controle e de manipulação do ato de compra, podendo ser encontrada em praticamente todos os lugares. E todo o custo de cartazes, pôsteres, filmes publicitários, outdoors, entre outros, acaba recaindo justamente no preço final do produto, ou seja, o consumidor acaba por financiar o sistema que controla as suas “pseudo-escolhas-livres”. O uso “novo” é sabiamente utilizado pela publicidade e empresas e ilude o consumidor com a idéia do “novo” que destrona o “velho”, mesmo que este novo tenha mudado (ou não) um aspecto de pouca importância. Além disto, o “novo” se sobrepõe cada vez mais rápido, gerando situações onde o que é “novo” agora, pode não ser mais “novo” daqui a 2 dias. A moda aparece então como sendo os “novos” métodos de conduta adotados por indivíduos das classes “elevadas”, e que são imitados e copiados pelo menos abastados para se sentirem mais próximos das “elites”.
Temos também a obsolescência planejada, onde o produto é projetado para ter um determinado tempo de duração. Isso sem esquecer o detrimento da qualidade em função da quantidade.
Com a evolução constante da Sociedade de Consumo, surge o Design Industrial, profissão que escultura a forma de modo a incitar o consumidor nos seus mais íntimos desejos, e assim, vendê-la de uma maneira mais eficiente. O designer, assim como o manager, que é o profissional que coordena, organiza e orienta uma empresa em suas mais diversas particularidades em função do lucro, são profissões criadas e difundidas na Sociedade de Consumo.
Como podemos notar, a Sociedade de Consumo se baseia nas frustrações e debilidades do consumidor, dando-lhe produtos que possam compensar, aliviar temporariamente as suas amarguras, no entanto, com o fim da etapa de consumo, este se sente novamente infeliz, e deseja, ansioso, consumir novamente, num ciclo que pode ser infinito; A substituição de seus instintos sexuais, fraternais e sociais pelo gozo de consumir, onde temos a mitificação de que um simples objeto pode ser portador da felicidade.
Devido à capacidade limitada de produção de recursos do nosso planeta, talvez este tipo de sociedade esteja com seus dias contados. Haverá de ser criado e aplicado nas Sociedades de Consumo atual um sistema de produção sustentável e uma consciência de que o consumo desenfreado e descontrolado desencadeará uma crise, tanto em recursos materiais como em recursos energéticos não renováveis, de proporções apocalípticas; Além do acumulo de lixo e detritos, e da poluição do meio ambiente. O crescimento demográfico também deverá ser controlado, visando que as futuras sociedades possam ainda usufruir de meios de sobrevivência com qualidade; Além disto, deve-se rever e reestruturar o sistema econômico capitalista atual, dominante sobre a esmagadora maioria dos paises e onde o lucro sobrepuja tudo, de forma a gerar uma comunidade global mais equilibrada, e utopicamente mais humana e solidária.